REVISÃO 01
Rigidez arterial, anti-hipertensivos e treinamento físico: uma abordagem experimental
Arterial stiffness, antihypertensives and physical training: an experimental approach
Danyelle S Miotto, Sandra Lia Amaral
Resumo
Rigidez arterial, frequentemente associada à hipertensão, tem sido reconhecida como um preditor independente de mortalidade e eventos cardiovasculares futuros. Assim, a identificação dos mecanismos moleculares envolvidos na rigidez aórtica é emergente para a intervenção terapêutica da hipertensão. O uso de fármacos anti-hipertensivos, assim como a prática de exercício físico, tem sido importante no controle da hipertensão e da rigidez arterial, mas os mecanismos envolvidos não são claros. Embora estudos em humanos determinem com precisão a complacência e a rigidez arterial por meio das propriedades dinâmicas da parede arterial, eles são limitados no avanço do conhecimento sobre os mecanismos condicionantes. Esta revisão evidencia a importância da abordagem experimental na identificação de mecanismos envolvidos no controle da rigidez arterial após tratamento com anti-hipertensivos e treinamento físico em animais hipertensos e sugere que ambas as formas de tratamento são eficazes, mas as vias de modulação da rigidez arterial são distintas, o que permite a identificação de diferentes alvos terapêuticos e confirma a relevância clínica dessa medida.
Palavras-chave: hipertensão, exercício físico, artérias, enrijecimento aórtico, proteômica.
Abstract
Arterial stiffness, often associated with hypertension, has been recognized as an independent predictor of mortality and future cardiovascular events. Thus, the identification of the molecular mechanisms involved in aortic stiffness is emerging for therapeutic intervention of hypertension. The use of antihypertensive drugs, as well as physical exercise, has been important in controlling hypertension and arterial stiffness, but the mechanisms involved are unclear. Although studies in humans accurately determine arterial compliance and stiffness through the dynamic properties of the arterial wall, they are limited in advancing knowledge about the conditioning mechanisms. This review highlights the importance of the experimental approach in identifying mechanisms involved in the control of arterial stiffness after treatment with antihypertensive drugs and physical training in hypertensive animals and suggests that both forms of treatment are effective, but the modulation pathways in arterial stiffness are distinct, which allows the identification of different therapeutic targets and confirms the clinical relevance of this measure.
Keywords: hypertension, physical exercise, arteries, aortic stiffening, proteomics.
MINIRREVISÃO 01
Redução da morbimortalidade cardiovascular: nova métrica para avaliar o impacto nos desfechos cardiovasculares e renais
Cardiovascular outcomes and time in target range
Frida Liane Plavnik
Resumo
A hipertensão arterial é o principal fator de risco modificável para a redução da morbimortalidade cardiovascular e renal. No entanto, o controle dos níveis pressóricos em portadores de hipertensão arterial ainda é muito insatisfatório globalmente, quando consideramos as metas estabelecidas pelas diretrizes em hipertensão arterial. Uma nova métrica tem sido proposta para avaliar o controle e o benefício na redução de eventos cardiovasculares e renais. Essa métrica permite avaliar o tempo durante o qual os pacientes hipertensos se mantêm dentro de uma faixa de pressão arterial sistólica e diastólica e como é possível estimar a redução dos eventos. Alguns pesquisadores postulam que essa métrica poderia substituir a definição de uma meta fixa e permitiria uma ampla utilização em termos de saúde pública. As reduções evidenciadas com base em análises post hoc e em registros de dados com tempo de duração variável indicam reduções entre 43% e 67%, para os eventos renais, e entre 19% e 35% para eventos cardiovasculares, dependendo da faixa-alvo e forma de avaliação. Por se tratar de uma metodologia recente em termos de aplicação na hipertensão arterial, requer definições mais uniformes, como a faixa desejada para controle, a forma como será avaliada em termos de percentis e a duração da observação, entre outros. Neste artigo, abordamos as evidências em favor dessa métrica e quais são as expectativas e necessidades e os ajustes que precisam ser feitos.
Palavras-chave: controle pressórico, desfechos cardiovasculares, desfechos renais, pressão arterial, tempo na faixa-alvo.
Abstract
High blood pressure is the main modifiable risk factor for reducing cardiovascular and renal morbidity and mortality. However, blood pressure control in hypertensive patients is still very low, globally, when considered the targets established by hypertension guidelines. A new metric has been proposed to assess control and the benefit in reducing cardiovascular and renal events. This metric allows us to assess the time during which hypertensive patients remain within a range of systolicand diastolic pressure, and how it makes it possible to estimate the reduction in events. Some researchers postulate that this metric could replace the definition of a fixed target and would allow for widespread use in terms of public health. The reductions based on post hoc analyses and data records with variable duration indicate reductions between 43% and 67% for renal events, and between 19%and 35% for cardiovascular events, depending on the target range and form of assessment. Since this is a recent methodology in terms of application in arterial hypertension, it requires more uniform definitions, such as the desired time in target range for control, the way in which it will be assessed in terms of percentiles, duration of observation, among others. In this article, we discuss the evidence in favor of this metric and what are the expectations and needs and the adjustments that need to be made.
Keywords: blood pressure control, cardiovascular events, high blood pressure, renal events, time in target range.
MINIRREVISÃO 02
Inflamação, aterosclerose e estatinas: implicações na modulação simpatovagal e no remodelamento vascular
Inflammation, atherosclerosis and statins: implications for sympathovagal modulation and vascular remodeling
Rogerio Castellan, Manuella da Silva Teixeira, Fernanda M. Consolim-Colombo
Resumo
Este artigo revisa o papel das estatinas na modulação da inflamação, da aterosclerose e da função autonômica, com ênfase no remodelamento vascular e no equilíbrio simpatovagal. A partir de estudos pré-clínicos, clínicos e meta-análises, são destacados os efeitos pleiotrópicos das estatinas além da redução do colesterol. As evidências apontam ações anti-inflamatórias, inibição da progressão da aterosclerose por meio da melhora da função endotelial e redução da proliferação de células musculares lisas, além da modulação autonômica, com menor atividade simpática e maior atividade parassimpática. Esses efeitos podem explicar os benefícios cardiovasculares das estatinas e sugerem novas aplicações terapêuticas em distúrbios vasculares e autonômicos. No entanto, mais estudos são necessários para esclarecer os mecanismos moleculares envolvidos e o impacto clínico de longo prazo.
Palavras-chave: estatinas, inflamação, aterosclerose, função autonômica, sistema nervoso autônomo.
Abstract
This article reviews the role of statins in the modulation of inflammation, atherosclerosisand autonomic function, emphasizing vascular remodeling and sympathovagal balance. Based on preclinical and clinical studies and meta-analyses, the pleiotropic effects of statins beyond cholesterol reduction are highlighted. Evidence points to anti-inflammatory actions, inhibition of atherosclerosis progression through improved endothelial function and reduction of smooth muscle cell proliferation, in addition to autonomic modulation, with reduced sympathetic activity and increased parasympathetic activity. These effects may explain the cardiovascular benefits of statins and suggest new therapeutic applications in vascular and autonomic disorders. However, further studies are needed to clarify the molecular mechanisms involved and the long-term clinical impact.
Keywords: statins, inflammation, atherosclerosis, autonomic function, autonomic nervous system.
ARTIGO 01
Myocardial perfusion scintigraphy for the evaluation of atypical chest pain – likely non-cardiac – in type 2 diabetic individuals with systemic hypertension
Cintilografia de perfusão miocárdica para avaliação de dor torácica atípica – provavelmente não cardíaca – em indivíduos diabéticos tipo 2 com hipertensão sistêmica
Luís Jesuino de Oliveira Andrade, , Gabriela Correia Matos de Oliveira, Alcina Maria Vinhaes Bittencourt, João Cláudio Nunes Carneiro Andrade, Daniela Oda, Isabela Pimenta Xavier, Janine Lemos de Lima, Luís Matos de Oliveira
Abstract
Myocardial perfusion scintigraphy (MPS) is an essential diagnostic tool for evaluating coronary artery disease (CAD), particularly in high-risk populations such as hypertensive type 2 diabetic (T2DM) patients. Despite its clinical relevance, there remains a significant gap in understanding its optimal application and diagnostic accuracy in this subgroup, warranting further research to refine risk stratification and improve patient outcomes. This study aimed to assess the prevalence of myocardial ischemic abnormalities in hypertensive T2DM patients presenting with atypical chest pain and either a normal resting electrocardiogram (ECG) or ventricular repolarization disturbances, through MPS. A total of 165 participants, comprising 50 men (30.3%) and 115 women (69.7%), with a mean age of 65.6 ± 6 years, underwent MPS using a 2-day protocol. The results revealed that 63.0% of patients exhibited normal perfusion scans, while 37.0% demonstrated findings consistent with myocardial ischemia. Additionally, a subset of the cohort underwent exercise stress testing (90.9%), which yielded positive results for ischemia in 33.3% of cases. The agreement between MPS and exercise ECG was analyzed, revealing a moderate correlation (Kappa = 0.52; P < 0.001). In patients with T2DM and systemic arterial hypertension presenting with atypical chest pain, MPS revealed ischemic changes suggestive of the presence of CAD, thereby assisting in the screening process for the indication of more invasive diagnostic procedures.
Keywords: myocardial perfusion scintigraphy, type 2 diabetes mellitus, hypertension, myocardial ischemia, atypical angina.
Resumo
A cintilografia de perfusão miocárdica (CPM) é uma ferramenta diagnóstica essencial para a avaliação da doença arterial coronariana (DAC), especialmente em populações de alto risco, como pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DMT2) e hipertensão arterial. Apesar de sua relevância clínica, persiste uma lacuna significativa no entendimento de sua aplicação ideal e acurácia diagnóstica nesse subgrupo, o que justifica a realização de pesquisas adicionais para aprimorar a estratificação de risco e melhorar os desfechos clínicos. Este estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de anormalidades isquêmicas miocárdicas, por meio da CPM, em pacientes hipertensos com DMT2, que apresentavam dor torácica atípica e eletrocardiograma (ECG) de repouso normal ou com distúrbios de repolarização ventricular. Um total de 165 participantes, sendo 50 homens (30,3%) e 115 mulheres (69,7%), com média de idade de 65,6 ± 6 anos, foi submetido à CPM utilizando protocolo de dois dias. Os resultados revelaram que 63,0% dos pacientes apresentaram cintilografias com perfusão normal, enquanto 37,0% demonstraram achados compatíveis com isquemia miocárdica. Adicionalmente, um subgrupo da coorte foi submetido ao teste ergométrico (90,9%), que indicou resultados positivos para isquemia em 33,3% dos casos. A concordância entre a CPM e o ECG de esforço foi analisada, revelando correlação moderada (Kappa = 0,52; P < 0,001). Em pacientes com DMT2 e hipertensão arterial sistêmica que apresentam dor torácica atípica, a CPM evidenciou alterações isquêmicas sugestivas de DAC, auxiliando no rastreamento para a indicação de exames diagnósticos mais invasivos.
Palavras-chave: cintilografia de perfusão miocárdica, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão, isquemia miocárdica, angina atípica.